A Escrava Decapitada


Na região de Pontal e Carnaubal (povoados do município de Bequimão - MA) haviam engenhos de produção de açúcar, no século XIX. Embora de pequeno porte, a mão de obra escrava não era dispensada. Não raro, escravos fugitivos de outros engenhos acabavam sendo capturados nessas áreas, como foi o caso de Costa D'Aço,  já relatado neste blog anteriormente.
O caso de hoje é muito contado ainda pelos moradores mais antigos de Pontal, a tradição de contar histórias é importante para manter viva partes de nossos antepassados.
Existia um senhor de engenho muito  branco,  pelo que contam parecia ter nascido albino, que residia nas áreas de Carnaubal - Ponta D'Areia. Por ser tão branco,   o sol lhe deixava sempre com a pele avermelhada, e sempre ficava nesse tom pois ele precisava sair ao sol, e naquele tempo ainda não existiam os protetores solares que conhecemos hoje.
Em São Bento, município geograficamente próximo a Pontal (dar para ir até a pé) existia uma jovem negra  que morava em uma fazenda, na casa grande, sendo muito querida por seus senhores,  pois a haviam criado desde pequena e residia com eles na casa grande. De beleza estonteante,  a jovem arrancava suspiros de diversos homens que se encantavam por ela.
Ocorre que, sempre que ia a São Bento e passava pela fazenda onde residia a jovem, o homem de pele avermelhada era apelidado por ela de camarão. Ele ria por fora mais por dentro um desejo de vingança tomou posse de seu coração. Certa vez, passando por lá,  ela o chamou de camarão com maior gozação e ele fez seu cavalo virar e retornou. Foi falar com o dono da  fazenda, dizendo estar interessado em comprar aquela linda jovem para fazer de esposa, pois estava muito apaixonado por ela. O dono da fazenda recusou a oferta, dizendo ter muito apreço e que sua esposa não concordaria com a venda. Os meses se passaram e a história se repetia: sempre que passava por lá, o homem se enfurecia ainda mais. Ele continuou sempre demonstrando interesse em comprá-lá,  até que um dia, pegou o dono da fazenda em péssima situação financeira e desta vez ele não recusou.
O homem sorriu diabolicamente. Colocou a jovem na garupa de seu cavalo, esta por sua vez chorava muito já temendo o seu futuro ao lado daquele homem cheio más intenções ocultas. Saíram da fazenda ele fazendo mil e umas declarações, fazendo com que todos ali pensassem que de fato havia amor e paixão por parte dele.
Longe da vista de todos,  no campo seco,  ele tirou ela da garupa do cavalo, prendeu-lhe as maos, amarrou-lhe uma corda no pescoço e disse que que assim chegariam  mais rápido em casa. O cavalo começou a andar mais rápido, e ela já morta de sede e cansaço, corria com os pés descalços nos torrões do campo, que já lhe causavam ferimentos. Após essa seção de tortura, o homem colocou o cavalo para galopar, a jovem desesperada não conseguiu mais  acompanhar o animal: a cabeça desprendeu-se do corpo, decapitando a jovem em meio ao campo. Satisfeito com a sua vingança arquitetada com detalhes, o homem de pela avermelhada largou lá mesmo o corpo, "para urubu comer".
Assim,  se encerra esta narrativa trágica, no tempo que os  senhores de escravos eram também senhores da vida e da morte.


Contribuição: meu pai Rui Castro

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